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Superbactéria poderá ‘comer’ resíduos de fábricas chinesas

Em um laboratório de Hong Kong, pesquisadores que trabalham na melhoria dos processos de produção de um dos maiores fabricantes de tecidos da China usam um ingrediente especial: bactérias, informou o jornal O Globo. A TAL Apparel, com fábricas na China continental e no Sudeste da Ásia, se uniu à City University para identificar bactérias que possam limpar de maneira mais eficiente as grandes quantidades de resíduos líquidos descartados pela indústria têxtil, numa iniciativa que pode reescrever as operações da indústria global da moda.

Depois de décadas de crescimento industrial sem freios, que deixou a China com um legado de poluição excessiva, aquíferos secando e os preços da água em alta, o governo está pressionando as indústrias, e o setor têxtil é o primeiro da fila. A fabricação de tecidos é a terceira no ranking de descarte de resíduos líquidos — 3 bilhões de toneladas por ano — atrás das indústrias química e de papel.

Assim, em 2015, o governo lançou um plano de recursos hídricos com dez medidas para controlar a poluição, promover tecnologias e melhorar o manejo da água, com prazo para alcançar seus objetivos até 2020. E essas medidas atingem o coração de uma indústria que durante décadas se beneficiou de mão de obra barata e de baixos custos de capital para entregar o chamado fast fashion, que leva a moda das passarelas rapidamente para as lojas com preços que fizeram das roupas um produto quase descartável.

— Os clientes estão mais felizes porque as roupas estão mais baratas do que há uma década, e os varejistas podem se beneficiar dos custos baixos — diz Felix Chung, um legislador de Hong Kong que representa a indústria têxtil. — Mas o resultado é uma enorme poluição, e as marcas terão que pagar por isso no futuro.

Com o setor é alvo de críticas por seu histórico ambiental, marcas importantes como H&M, Target e Gap adotaram padrões de qualidade para uso de água por seus fornecedores, monitorando-os para proteger sua reputação entre os consumidores. O problema é como atingir melhores padrões ambientais e trabalhistas sem elevar os preços ao consumidor, já está acostumado com a moda barata da fast fashion.

— Falamos sobre responsabilidade social, mas as pessoas não querem pagar por isso — disse o presidente da TAL, Harry Lee. — Uma regulamentação mais rigoroso requer que os fabricantes melhorem suas fábricas, mas isso exige capital.

A TAL, que abriu a sua primeira fábrica na China continental em 1994, vinha comprando bactérias de outros laboratórios para tratar a água usada na lavagem dos tecidos. Com bactérias no lugar de produtos químicos, ela pode reduzir os resíduos líquidos em até 80%, além de permitir que 100% da água seja reciclada na própria fábrica. Mas, durante uma parada na produção para comemoração do ano novo chinês no ano passado, as bactérias no seu sistema morreram. Então a TAL montou um programa de pesquisa que usa o sequenciamento de DNA para buscar uma “superbactéria” mais barata e eficiente.

Mas pesquisar e melhorar a tecnologia é caro. Assim, está chegando o dia em que os varejistas terão que reajustar os preços já que os fabricantes não conseguem mais absorver os custos para cumprir as regras ambientais. Diante disso, as grandes redes de varejo também participam da tentativa de desenvolver técnicas que possam cortar custos e permitir que a indústria gere menos resíduos.

Enquanto isso, no laboratório em Hong Kong, os cientistas esperam desenvolver sua superbactéria em dois anos. Se forem bem-sucedidos, a TAL compartilhará os resultados com outros fabricantes.

— Com sorte, mais fabricantes vão querer usá-la. Mas é um processo muito lento — contou Lee.

 

 

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